Vida com qualidade ou qualidade de vida?

O que significa ter uma vida com mais qualidade? Quais sãos os atributos que denotam que a vida que vivo tem mais ou menos qualidade, e qualidade relacionada a quê? E por fim, o que é a qualidade da qual tanto se fala quando se usa o termo “qualidade de vida”?

A resposta mais simples e objetiva é que todos queremos ser felizes e queremos uma felicidade duradoura. Queremos que aqueles que amamos também sejam felizes para que assim possamos nos tranquilizar com o distanciamento do sofrimento que possa vir a atingir a nós e aqueles que nos são importantes. Essa busca por felicidade permeia a existência humana e nos levou aos maiores avanços científicos, culturais e espirituais, assim como as maiores calamidades e atrocidades que pudemos cometer.

Há alguns séculos atrás, uma vida com qualidade era aquela em que conseguiríamos chegar vivos até os 30 anos. Algumas décadas atrás era aquela em que conseguiríamos ter uma casa, um carro, bons estudos para os filhos e uma gorda aposentadoria. E nos últimos 20 anos, ter isso tudo e ainda todos os equipamentos eletrônicos que se puder comprar e todas as viagens que se puder viajar (ironicamente, depois de aposentado).

Recentemente esse olhar sobre quais são os elementos que definem uma vida com qualidade tem mudado. A busca por alimentos saudáveis, terapias alternativas, métodos de cura e práticas de autoconhecimento tem aumentado rapidamente. Mas por qual razão?

Mais recentemente, tem-se percebido, através das experiências dos que vieram antes, a impermanência das coisas: “tudo muda o tempo todo no mundo, como uma onda no mar”, como já disse o Lulu Santos. E esse é um tópico crucial para se entender o que é uma vida com qualidade, o que é a vida que vale a pena ser vivida.

A cada dia mais e mais pessoas tem se dado conta de que simplesmente correr atrás de objetos e experiências que satisfaçam nossos desejos não representam necessariamente felicidade e se há algo de alegria neles, é sempre passageira. Temos percebido que essa busca nos leva a alternar constantemente entre momentos de euforia, de grande desejo e vontade, e momentos de falta de ânimo e torpor. Em alguns momentos estamos totalmente comprometidos em alcançar o sucesso e a glória e em outros, somos tomados por um cansaço profundo. Porém, em alguns momentos, as vezes quando estamos de férias, as vezes quando estamos lendo um livro ou quando estamos genuinamente nos divertindo com a família e amigos, ou quando estamos em um passeio despretensioso no parque ou na praia, sentimos breves momentos de leveza, de alegria, de calma. Nesse momento, não precisamos tanto assim das coisas que desejamos, nem fugir daquilo que nos causa aversão ou medo, ou ainda termos aquele desejo intenso de afirmar nosso ponto de vista sobre algum assunto. Esses momentos podemos chamar de um momento de qualidade de vida, ou de vida com qualidade, ou ainda, uma vida que vale a pena ser vivida. E por que isso? Porque nesses momentos estamos vivendo a partir de nossa própria vontade de viver, nossa própria energia de vida. A satisfação em viver vem de nós mesmos e não do outro ou de alguma outra coisa.

Isso não quer dizer que buscar conforto na vida seja algo que não contribua para a felicidade, de fato ajuda, mas nos leva somente a estados temporários de alegria. A felicidade profunda brota de um olhar interno, da compreensão clara de quem somos, livre de apegos, aversões, egoísmo e medo.

E como trilhar esse caminho, como descobrir e entender isso? Através das práticas de respiração e meditação. A meditação correta, adaptada a quem somos considerando nossas individualidades, nos leva a refletir sobre o que é efêmero e o que é perene em nós. Nos leva a entender o que podemos esperar de nossas experiências efêmeras e o que esperar do que é perene em nós e assim a nos relacionarmos de forma mais consciente e madura com nossas experiências. Já as práticas de respiração, direcionam a mente para um estado de maior calma e lucidez, que possibilitarão a meditação profunda.

Ironicamente, essas práticas de respiração e meditação que tem se popularizado tanto nas últimas décadas foram criadas por grandes sábios indianos há mais de dois mil anos atrás. Alguns as chamam de yoga.

 

Ricardo Prates
Professor de Yoga

2016-06-03T12:14:36-03:00 3 de junho de 2016|Categories: Meditação, Saúde, Yoga|Tags: |2 Comments

2 Comments

  1. Bruno Davanzo 3 de junho de 2016 at 18:18 - Reply

    Super legal Ricardo! Gratidão! E com certeza isso nos levará ao que muitos já pararam para pensar, qual seria o verdadeiro significado de nossa existencia por aqui? Ou de outra forma, o que traz um significado mais profundo para minha existência, que está além dessas impermanências que ficamos correndo atrás?
    abraço querido

    • conica 4 de agosto de 2016 at 14:53 - Reply

      Brigadão pelo apoio Bruno. Vou pensar sobre continuar o post a partir das suas reflexões. Abração

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